Manifestações artísticas como terapia. Pessoas com deficiência e idosos incluídos pela arte.
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Seja
nas versões tradicionais ou mais modernas, a arte sempre esteve presente nas
produções humanas. Dentre os múltiplos papéis, ela pode assumir a função terapêutica
e de socialização. Por esses motivos, a produção artística tem sido estudada e
utilizada como recurso para recuperar, ressignificar e socializar pessoas. Na
capital, alguns grupos utilizam a arteterapia como
ferramenta inclusiva ao desenvolver seus trabalhos.
É o caso do Projeto PÉS, que desde 2011 pesquisa a execução do movimento expressivo para e por pessoas com deficiência, por meio de técnicas do teatro-dança. O projeto foi idealizado em 2009, pelo o diretor Rafael Tursi. "É sabido que, de maneira geral, a arte tem uma função importante no processo de formação das pessoas, perpassando por questões técnicas, éticas, estéticas, sensitivas e sensoriais, além de noções históricas, civilizatórias e do convívio em sociedade. Com as pessoas com deficiência não é diferente. Diria aliás, que, muitas vezes, ela é potencializadora destas questões. Assim, é possível observar, por exemplo, como o ensaio técnico da construção de uma cena coreográfica auxilia o desenvolvimento, tanto do processo cognitivo do indivíduo, na exaustiva repetição da cena onde busca sua autonomia, quanto no desenvolvimento psicomotor, que se descobre, se aprimora e se torna consciente a cada ensaio", explica o diretor.
Na mesma época em que idealizava o projeto, Rafael recebeu a notícia de que uma amiga próxima havia sofrido um acidente que a deixou com tetraparesia, quando todos os quatro membros experimentam fraqueza anormal. Enquanto acompanhava o tratamento, começou a refletir sobre possíveis exercícios no teatro e na dança com foco em reeducação corporal para pessoas com deficiência.
O projeto é aberto à comunidade e tem como foco o desenvolvimento e a socialização. As aulas são realizadas por meio de dinâmicas corporais e da experimentação de objetos ludopedagógicos (corda, balão, lenço e massa de modelar, entre outros) e sempre seguidas de avaliações pontuais, por parte da equipe executora.
A cada avaliação, são feitos os ajustes necessários. "A partir da arte-educação existe a possibilidade do erro. Ou seja, ali o indivíduo não é "café com leite", ali não existe o "qualquer coisa está bem", porque ele tem uma deficiência. Ee será estimulado para, a partir do seu corpo, realizar a cena ou a atividade a ser feita. Lidamos diretamente com o conceito de adaptação, em que adaptar não significa tornar algo fácil porque o indivíduo é incapaz e, sim, buscar meios para que ele execute a atividade. É onde a tentativa e o erro viram um novo acerto", esclarece Tursi.
As atividades estão suspensas como medida de prevenção ao coronavírus, mas no acervo virtual do grupo há um curta-documentário chamado Por que você dança?, dirigido por Rafael Tursi, em que o público pode conhecer algumas histórias de experiência com a dança. Além disso, é possível encontrar espetáculos completos nos canais do YouTube, do diretor e do grupo, como Similitudo, Klepsydra, entre outros.
Musicoterapia
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Uma Sinfonia Diferente. Desenvolvido pelo Instituto
Steinkopf.(foto:
Patricia Soransso/Divulgação)
A iniciativa Uma sinfonia diferente utiliza a musicoterapia para o desenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A metodologia multidisciplinar foi elaborada no Instituto Steinkopf, atualmente com base em Brasília, em Porto Alegre e em São Luís do Maranhão. Em Brasília, pessoas entre 3 e 40 anos são preparadas para as apresentações da sinfonia por meio de atividades e ensaios em grupo.
Além de conscientizar a comunidade, pais e cuidadores sobre as capacidades de pessoas com TEA, a ação facilita a comunicação verbal e não verbal, estimula a criatividade e motricidade, e amplia a interação social e familiar, melhorando a qualidade de vida. "A arte, principalmente a música é um elemento universal. Ouvimos música e sons desde os quatro meses de vida intrauterina. A música nos conecta, nos emociona, nos ajuda a desenvolver habilidades, e isso também para as pessoas com TEA. A música, por si só, é um recurso de estímulo neurológico muito rico, e quando direcionada e utilizada com objetivos terapêuticos temos resultados maravilhosos. Com isso, conseguimos respostas motoras, interacionais e sociais", explica Ana Carolina Steinkopf musicoterapeuta.
O instituto é composto por uma equipe de psicóloga, terapeuta ocupacional e uma musicoterapeuta que coordenam ensaios e reuniões com os pais. As inscrições para Uma sinfonia diferente são abertas, normalmente, a cada seis meses.
O instituto também
conta com a Sinfonia baby, que consiste na estimulação precoce de crianças de
um a três anos. As atividades também são realizadas com os pais para que
aprendam e possam dar continuidade fora do ambiente clínico. As inscrições são
feitas uma vez por ano e os atendimentos ocorrem, normalmente, uma vez por
semana. No canal do YouTube, Sinfonia
Diferente, estão disponíveis vídeos de algumas apresentações
realizadas.
Arte na melhor idade
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Projeto Grupos dos Mais Vividos. Desenvolvido pelo Sesc-DF(foto: Cristiano Costa/Divulgação)
Outra faceta da arteterapia está presente no trabalho desenvolvido pelo Sesc-DF, o Grupo dos Mais Vividos (GMV). O projeto é voltado para pessoas acima de 60 anos, e tem como objetivo a promoção da qualidade de vida, da autonomia, do protagonismo e empoderamento da pessoa idosa. As atividades do projeto possibilitam o desenvolvimento pessoal e social, tornando a velhice, um tempo produtivo e significativo.
"O trabalho permite que possamos perceber a velhice na totalidade, sabendo quais as necessidades que os idosos apresentam quando procuram o grupo. A arte contribui para o processo de expressão do corpo e da mente, por meio de desenhos, pintura, música, teatro, e sobretudo, trabalha a memória e faz um resgate do passado para o presente de forma trazer fatos importantes da vida dos idosos para as relações sociais atuais. Nas oficinas que trabalhamos com arte, ficou visível esta relação entre o passado e o futuro entre os participantes", explica a coordenadora de assistência social do Sesc, Adriana Costa.
Os grupos têm base nas Unidades Operacionais e Centro de Atividades da Ceilândia, Estação 504 Sul, Gama, Guará, Taguatinga Norte, Taguatinga Sul e 913 Sul. Atualmente as atividades presenciais estão suspensas, por conta da quarentena em prevenção à Covid-19, especialmente por envolver um dos principais grupos de risco. Entretanto, em tempos de isolamento, o Sesc tem promovido atividades virtuais com os idosos do grupos e também com outros idosos da comunidade. "Para participar basta enviar uma mensagem para o número, (61) 99994-3652. Atividades de cognição, leitura, música estão sendo enviadas diariamente para mantê-los ativos e envolvidos", esclarece Adriana.
Fonte: Correio Braziliense